Primeiro de tudo, preciso dizer que fiquei positivamente impressionada com a população de Atlanta. Já haviam me dito que tinha muitos negros/as aqui, mas não são muitos. É a grande maioria mesmo. É como estar em Salvador! No metrô nem se fala, são raras as pessoas brancas. Depois escrevo mais sobre isto. Mas esta informação é importante para entender o que segue.
Um boa impressão que tive de Atlanta foi a sua “Southern Hospitality”. Shayna, uma amiga estadunidense que mora em Salvador, me disse que o Sul dos EUA é conhecido por ser hospitaleiro. Muito legal mesmo. E aqui tem similaridades com Salvador também, mas de uma forma mais forte, mais esponea, não sei definir ao certo, mas um pouco diferente.
Enquanto se anda nas ruas ou entra no metrô, se você olha para uma pessoa normalmente ela te cumprimenta perguntando: “how are you doing?”. É tão natural que acontece quando você cruza com outra pessoa na calçada, quando entra em algum lugar, quando vai ser atendido, em qualquer lugar e momento.
As duas vezes mais engraçadas foram em estacionamentos. Eu estava saindo de algum lugar andando pelos carros e aí, é natural, você vê um movimento e olha. Nas duas vezes, a pessoa no movimento de abrir a porta e sair do carro te vê e diz “how are you doing?”. Numa dessas vezes a pessoa estava sentada no carro com a porta aberta e enquanto eu passava ela estava puxando aquela escarrada da garganta. No meio do processo, antes de cuspir, ele olhou para mim e disse com a boca cheia: “How are you doing?”. Respondi e segui em frente. Aí ficou aquele tempo sinistro, eu andando e só esperando o barulho da cuspida, e o cara, de certo meio sem graça, esperou um pouco para cuspir. Depois de uns 15 longos segundos eu ouvi a cuspida. Kkkkk. Fiquei rindo sozinha!
Mas diga aí! A hospitalidade, a cordialidade do povo de Atlanta é tão natural, é tão espontânea, que o cara cumprimenta a outra pessoa até no meio de uma escarrada. Só porque a pessoa olhou para ele.
Estou adorando esta cordialidade. Realmente a gente se sente muito bem na cidade. Eu que sou de fora deste país, fico mais tranqüila para perguntar informações, para ir em alguma loja e comprar alguma coisa mesmo que meu inglês ainda não esteja muito bom. Fico com a sensação de que provavelmente a pessoa terá paciência quando já tem este costume hospitaleiro. Alem do mais, é sempre bom saber que está sendo vista, que você existe para o outro. Quando alguém te cumprimenta está abrindo um canal de comunicação e avalio que o canal de comunicação aqui é bom, pois o cumprimento é uma pergunta “how are you doing?”. Creio que tem diferença quando você diz apenas “Hi” e quando você pergunta como ela pessoa está. Quando diz um “olá”, você sinaliza que viu a pessoa, mas é uma comunicação mais fechada, não está necessariamente abrindo um diálogo. Agora, quando a pessoa lhe cumprimenta fazendo uma pergunta, por mais espontâneo, natural ou automático que isto seja, pressupõe uma resposta, pressupõe o diálogo.
Acho que podemos encontrar similar hospitalidade em Salvador, no nordeste em geral, em Minas Gerais e arrisco dizer que ela está muito relacionada à forma africana de ser, pois são regiões com muitos afro-descendentes. O que vocês acham?