Consciência corporal e ancestralidade africana: conceitos sociopoéticos produzidos por pessoas de santo.

Autores:

Norval Batista Cruz

Resumo:

Este estudo apresenta os conceitos sociopoéticos produzidos por uma comunidade de terreiro de candomblé, Ilê Axé Omo Tifé, localizada no bairro de Jangurussu, na periferia de Fortaleza-Ce. O tema gerador da pesquisa é consciência corporal e ancestralidade africana. Noto que, apesar dos terreiros de candomblé, em principio estarem mais conectados com a cultura de matriz africana, nem sempre se encontra uma prática de consciência corporal associada à ancestralidade africana e às vezes, há uma dificuldade de conexão entre as práticas religiosas e as dimensões corporais da cosmovisão africana. Diante deste contexto, neste estudo procuro responder a seguinte pergunta: Quais os conceitos que as pessoas de santo produzem a respeito da consciência corporal e da ancestralidade africana e a relação entre os mesmos? Outra pergunta é: até que ponto as pessoas de santo produzem conceitos que escapam dos valores eurocêntricos racionalistas? O método utilizado foi o sociopoético, onde o grupo alvo da pesquisa se transforma em co-pesquisadores/as do tema, participando com o pesquisador oficial de todo o processo da investigação, objetivando produzir confetos (conceitos perpassados de afetos, sentimentos e emoções que apresentam sentidos desterritorializados). Nesta pesquisa, o grupo foi formado por dez pessoas entre iaôs, (iniciados) abiãs (pré-iniciados) e ogans (auxiliares da Mãe de Santo). Um dos princípios da sociopoética é o corpo enquanto fonte de conhecimento, por isso recorre-se a vivências e técnicas artísticas, visando aguçar os cinco sentidos e a imaginação. Nesta pesquisa realizei três vivências com o grupo. A primeira foi a vivência lunar, efetuada à noite, na Abreulândia, numa região agreste, com mar, dunas, lagoas, mangues e matas. Foi um ritual. Fizemos caminhadas, acessamos bases ancestrais (cócoras, movimentos dos animais, rastejamentos, descidas invertidas em dunas, reverências aos elementos da natureza, etc.). A segunda vivência foi a dança africana onde, após o momento de relaxamento, o grupo realizou movimentos individuais e coletivos de auto-percepção e danças de várias partes da África e sua diáspora. A terceira vivência foi com argila. Com os olhos vendados, os co-pesquisadores produziram esculturas. A partir dessas vivências, eles construíram confetos relativos ao tema gerador, tais como: ancestralidade raiz (saberes da tradição oral), homem terra (aquele que senta seu ânus no chão ao contrário do homem moderno que senta na cadeira), rasgar a natureza (destruição da natureza), exu impulso (energia que joga para frente e faz as coisas se movimentarem), corpo sinuosidade (movimento estático, porém circular), água-fogo (sensação de fogo dentro da água gelada). Concluo que esta pesquisa produziu conceitos surpreendentes, desterritorializados dos valores eurocêntricos e dos chavões, gerando na minha pessoa um sentimento de felicidade e prazer, por ter me apropriado, junto com o grupo, das energias vivas da nossa ancestralidade.

Referências:

CRUZ, Norval Batista. Consciência corporal e ancestralidade africana: conceitos sociopoéticos produzidos por pessoas de santo. 2009. 202f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal do Ceará, Faculdade de Educação, Programa de Pós-graduação em Educação Brasileira, Fortaleza-CE, 2009.

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